KRUM

“Pensa nas nossas preocupações em vão, nossas dúvidas eternas.”

Numa realidade social opressora, todos se sentem pequenos, vivendo à margem, de forma diferente da que gostariam de viver. O texto do autor israelense Hanoch Levin apresenta um estilo muito particular, direto e conciso, para falar não de grandes acontecimentos, mas do mais prosaico na experiência humana. A história contada aqui poderia se passar em qualquer bairro do mundo, porque o cerne está em refletir um lugar onde todos se sentem “pequenos” e excluídos, vivendo de forma diferente da que gostariam de viver. A trajetória do personagem-título, que retorna ao lar depois de tentar a sorte no estrangeiro “sem conseguir nada”, faz com que nos perguntemos até que ponto uma mudança de lugar ou até mesmo de país pode ser a solução para quem vive sob uma realidade social opressora.

Em seu ciclo final de formação na CAL, a turma BT41A trabalhou sob direção de João Batista para  conceber um espetáculo que traduzisse essa dramaturgia de detalhes para o palco. Cenas curtas, pitadas de humor ácido e alguns momentos de lirismo para falar sobre vidas precárias, fracassos... Mas que acabam por nos convidar a pensar sobre nossos próprios desejos, sonhos e inconformismos. Afinal, quem de nós, vivendo numa sociedade tão pautada pela necessidade de sucesso e de realização de sonhos de consumo, nunca desejou ter “uma outra vida”?

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Com a palavra, o diretor.

“(...) Os textos de Levin possuem uma linguagem muito particular, misturando sublime e absurdo, podendo-se notar em suas obras influências de autores como Tchekhov e Becket.  Em KRUM,  o personagem-título volta para casa depois de uma viagem ao estrangeiro. Volta com as mãos abanando, sem conseguir nada do que buscava. Volta para um bairro remoto que poderia estar em diferentes partes do mundo, uma vez que a peça aborda questões dolorosamente universais: a eterna vontade de “mudar tudo”, a insatisfação de não ter realizado os próprios sonhos, de não ter “correspondido às expectativas”, a vontade de “ir embora”, de buscar pontos de fuga para um cotidiano sem brilho, sem grandes acontecimentos, muitas vezes marcado apenas pelos rituais tradicionais como nascimentos, casamentos e enterros. 

Não é uma peça sobre grandes feitos. É uma peça sobre pessoas comuns, em cujas vidas nada acontece de extraordinário. A certa altura, uma das personagens afirma, falando sobre a vida: “ A questão é: o que fazemos com isso? Somos capazes de aproveitar esse curto espaço de tempo em que estamos saudáveis?” 

Levin lança sobre seus personagens um olhar ao mesmo tempo cruel e generoso. Um texto desafiador. Um prazer montá-lo com a BT41A. Desejo a todos os formandos muito sucesso em sua caminhada e agradeço à CAL pela oportunidade de dirigir mais uma formatura.”

João Batista